Instruções:
As atividades devem ser copiadas e
respondidas no caderno, e serão vistadas no retorno logo após a quarentena.
Atividade 1
Cap. 06_
A cultura e as suas raízes
ü Livro:
“Sociologia_ Volume único”, Autoras: Silvia Araújo, Maria Bridi e Benilde Motim.
01_ Pesquisem sobre
hábitos de outros povos ou países, tendo em vista o conceito de Diversidade
Cultural, explícito no texto da p. 176 a 180. Faça uma rápida exposição sobre
cultura e diversidade cultural de algum outro povo ou cultura que tenha lhe
chamado atenção.
02_ Pesquisem em sites
de internet, revistas antigas e novas, jornais etc., como as conquistas das mulheres atestam as mudanças na sociedade brasileira. Você pode apresentar dados sobre
trabalho, mudanças de comportamento, as conquistas no campo jurídico e mudanças
no vestuário. Discutam como os valores mudam, o que representa a dinâmica das
culturas e quais os fatores que influenciaram essas transformações.
03_ Relativismo e Etnocentrismo: Vamos
refletir sobre como olhamos e julgamos as outras culturas, bem como julgamos
nosso colega ou outros grupos sociais que se vestem, falam ou se comportam de
maneira diferente daquela que consideramos ser mais correta, melhor ou
superior. Ou seja, manifestações que também ocorrem no nosso cotidiano e são um
convite à intolerância. Nosso objetivo nas atividades aqui propostas são
refletir sobre as seguintes questões: Como comparamos diferentes culturas? Como
as culturas são descritas e classificadas? Como elas interagem? Tudo em termos
culturais deve ser respeitado?
04_ Descrição da
atividade: Discutir o tema do Etnocentrismo e Relativismo cultural após a
exibição do vídeo “Pés de Lótus” (https://www.youtube.com/watch?v=gmGZGa0Ze58)
Esse filme relata a
prática na China, cujas mulheres, quando crianças, atavam os pés para que
ficassem pequenos. Após assistir o filme, elabore um texto debatendo e destacando
os seguintes aspectos: - O que mais lhe chamou atenção? - Quais os fatores que
motivam essa prática cultural em sua opinião? - Existem outros exemplos que
você conhece sobre diversidade cultural? - Como vocês julgariam essa prática?
05_ Após a leitura dos
textos a seguir, que trazem exemplos de diversidade cultural debatam como essas
práticas são diferentes e o sentimento de estranhamento que essas práticas
provocam (exemplos texto 1 e 2 abaixo). Como podemos diferenciar e respeitar as
outras culturas sem utilizar concepções de hierarquia e desigualdade ou
concepções de progresso e atraso, ou de normalidade e diferença. Podemos
aceitar todas as práticas culturais?
Texto 1. Diversidade
cultural - Estudos de caso
A cultura de uma
determinada sociedade pode diferir profundamente de outra, o que é sagrado para
uma pode ser repugnante para outra, o que é certo para uma pode ser errado para
outras. Veja alguns exemplos: “O homem recebe do meio cultural, em primeiro
lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável."
Deste modo, os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em
decomposição. Para dormir, os Pigmeus procuram a incômoda forquilha de madeira
e os Japoneses deitam a cabeça em duro cepo. O homem recebe do seu meio
cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os
homens mais velhos do que são e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os
indivíduos continuam a cometer erros por excesso. O homem também retira do meio
cultural as atitudes afetivas típicas. Entre os Maoris [Nova Zelândia], onde se
chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua
partida. Nos Esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme
desapareceu (...). Nas ilhas Alor [Indonésia], a mentira lúdica considera-se
normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos
adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha de Normanby onde a mãe, por
brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. O respeito pelos pais sofre
igualmente flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte
entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do
Daomé. Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos
Kamtchatka [da Sibéria] pré-comunistas ou nos aborígenes do Brasil. As crianças
Taraumaras [do México] batem e injuriam facilmente os pais.Entre os Esquimós o
casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas
secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão [atual
Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais
novos mantêm relações com a cunhada. (…)O amor e os cuidados da mãe pelos
filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austrália] e nas ilhas
Andaman [Índia], em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos
hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade. A
sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica
feminina, como nos Tchambuli [Nova Guiné], por exemplo, em que na família é a
mulher quem domina e assume a direção. Os diferentes povos criaram e
desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir,
decerto – como um protótipo.
Lucien Malson, As crianças selvagens, Livraria
Civilização, 1988, pp. 26-28.
Texto 2 - POR QUE
MUTILAM O CLITÓRIS?
Baseado no texto da
Revista Superinteressante, abril de 2002
Trailer - Circuncisão
Feminina: Quando a cultura molda o seu corpo - /Portuguese version
Nos últimos anos, o
mundo vem fazendo uma guerra contra a mutilação genital nas mulheres muçulmanas
e a ONU escalou um time de celebridades para sair protestando contra o costume
ancestral dos muçulmanos de arrancar o clitóris das mulheres. Mas não só as
mulheres muçulmanas fazem essa coisa "terrível". Aqui pertinho, do
lado do Brasil, algumas mulheres peruanas tem esse mesmo costume. Um índio da
tribo shipibo-conibo desenha esse ritual para a revista superinteressante,
editora abril."Afinal, porque eles fazem isso? Respostas que as mulheres
da tribo shipibo-conibo deram: "A mulher com clitóris fica mais ociosa;
para que engorde; para tirar seu mau cheiro; se não tirasse, cresceria um pênis
ali; se não, ela seria descriminada; a verdadeira mulher não tem, e o que a
maioria respondeu: e o costume. O fato é que a capadura era, além de uma
obrigação, uma virtude, um ato de cidadania. A mulher que não extirpasse seu
clitóris não arrumava homem." Alguns estudiosos falaram sobre este assunto
para a revista: "Antropólogo peruano, Maneul Cuents disse: um rito de
transição: ela entra com um status e sai com outro, apta para o matrimônio. Já
Jacques Tourneau, etnocientista francês acha que se trata de uma castração
simbólica para dominar as mulheres e uma
forma de retirar seu apetite sexual, diminuindo as relações extramatrimoniais.
Para a Psicanálise, o clitóris pode ser considerado um pequeno pênis e sua
extirpação tira o aspecto masculino e caracteriza a jovem sem ambiguidade como
mulher."
06_ Discuta suas
impressões, e debata sobre cultura e estranhamento ou choque cultural, a partir
da leitura do texto / vídeo “Ritos corporais entre os nacirema” (https://www.youtube.com/watch?v=i12js3DrygI&t=2s) . Destaque quais
práticas você considera mais diferentes.
Ritos Corporais entre
os Nacirema
Por Horace Miner
A maioria das culturas apresenta uma
configuração ou estilo particular. Frequentemente, um único valor ou parâmetro
de perceber o mundo deixa sua marca em
várias instituições na sociedade. Exemplos são o “machismo” nas culturas de
influência espanhola ou a “face” na cultura japonesa, e “a poluição feminina”
em algumas culturas das terras altas da Nova Guiné. Aqui Horace Miner demonstra que “atitudes
quanto ao corpo” têm influência generalizada em muitas instituições da
sociedade Nacirema.[1]
O antropólogo está tão familiarizado com a
diversidade das formas de comportamento as quais os diferentes povos apresentam
em situações semelhantes que é incapaz
de se surpreender mesmo diante dos costumes mais exóticos.
De fato, embora nem
todas as combinações de comportamento logicamente possíveis tenham sido
descobertas em alguma parte do mundo, o antropólogo pode suspeitar que elas
devam existir em alguma tribo ainda por descrever. Este aspecto foi expresso,
com relação à organização clânica, por Murdock (1949:71)[2]. Deste ponto de
vista, as crenças e práticas mágicas dos Nacirema apresentam aspectos tão
inusitados que parece apropriado descrevê-los como um exemplo dos extremos a
que pode atingir o comportamento humano.
O professor Linton[3],
há vinte anos (1936:56), foi o primeiro a chamar a atenção dos antropólogos
para o ritual dos Nacirema, mas a cultura desse povo ainda permanece
insuficientemente compreendida. Trata-se de um grupo norte-americano vivendo no
território entre os Cree do Canadá, os Yaqui e Tarahumare do México e os Carib
e Awarak das Antilhas. Pouco se sabe sobre sua origem, embora a tradição relate
que vieram do leste…[4].
A cultura Nacirema
caracteriza-se por uma economia de mercado altamente desenvolvida, evoluida em um rico habitat natural. Apesar
de o povo dedicar muito do seu tempo às atividades econômicas, uma grande parte
dos frutos destes trabalhos são gastos uma considerável porção do dia em
atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano cuja aparência e saúde agigantam-se como os
interesses dominantes no ethos deste povo. Embora tal tipo de interesse não
seja, por certo, raro, seus aspectos cerimoniais e a filosofia a ele associadas
são singulares.
A crença fundamental
subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é repugnante
e sua tende naturalmente para a
debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é
desviar estas características mediante o uso das poderosas influências do
ritual do cerimonial. Cada moradia tem um ou mais santuários devotados a este
propósito. Os indivíduos mais poderosos desta sociedade têm muitos santuários
em suas casas. De fato, a alusão à
opulência de uma casa frequentemente é feita em termos do número de tais
centros rituais que possua. Muitas casas são construções de madeira toscamente
pintadas, mas as câmaras de culto das mais ricas paredes de pedra. As famílias
mais pobres imitam as ricas aplicando placas de cerâmica às paredes de seu
santuário.
Embora cada família
tenha pelo menos um de tais santuários, os rituais associados não são
cerimônias familiares, são cerimônias privadas e secretas. Os ritos normalmente
são discutidos apenas com as crianças e, neste caso, somente o período em que
estão sendo iniciadas em seus mistérios. Contudo, eu pude estabelecer contato
suficiente com os nativos para examinar estes santuários e obter descrições dos
rituais.
O ponto focal do
santuário é uma caixa ou cofre embutido na parede. Neste cofre são guardados os
inúmeros encantamentos e poções mágicas sem os quais nenhum nativo acredita que
poderia viver. Estas poções são adquiridas por meio de uma série de
profissionais especializados, os mais poderosos dos quais são os
médicos-feiticeiros cujo auxílio deve ser recompensado com dádivas
substanciais. Entretanto, os médico-feiticeiros não fornecem a seus clientes
poções de cura, só decidem quais devem ser seus ingredientes, então as escrevem
em uma linguagem antiga e secreta. Esta escrita é entendida apenas pelos
médicos-feiticeiros e pelos ervatários quem em troca de outra dádiva providenciam o encantamento necessário.
Os Nacirema não se
desfazem do encantamento após seu uso, mas o colocam na caixa-de-encantamentos
do santuário doméstico. Com estas substâncias mágicas são específicas para
certas doenças e as doenças do povo, reais ou imaginárias, são muitas. A
caixa-de-encantamentos está geralmente a ponto de transbordar. Os pacotes
mágicos são tão numerosos que as pessoas esquecem quais são suas finalidades e
temem usá-los de novo. Embora os nativos sejam muito vagos quanto a este
aspecto, só podemos concluir o que os leva a conservar todas as velhas
substâncias é a ideia de que sua presença na caixa-de-encantamentos, em frente
da qual são efetuados os ritos corporais,
de alguma forma protegerá o adorador.
Abaixo da
caixa-de-encantamentos existe uma pequena pia batismal. Todos os dias cada
membro da família, um após o outro, entra no santuário, inclina sua fronte ante
a caixa-de-encantamentos, mistura diferentes tipos de águas sagradas na pia
batismal e procede a um breve rito de ablução[5]. As águas sagradas vêem do
Templo da Água da comunidade onde sacerdotes executam elaboradas cerimônias
para tornar o líquido ritualmente puro.
Na hierarquia dos
mágicos profissionais, logo abaixo dos médicos-feiticeiros no que diz respeito
ao prestígio, estão os especialistas cuja designação pode ser traduzida por
“sagrados-homens-da-boca”. Os Nacirema têm um horror quase que patológico e ao
mesmo tempo uma fascinação em relação à cavidade bucal cujo estado acreditam ter uma influência
sobrenatural em todas as relações sociais. Acreditam que, se não fosse pelos
rituais bucais, seus dentes cairiam, suas gengivas sangrariam, suas mandíbulas
se contrairiam, seus amigos os abandonariam e seus namorados os rejeitariam.
Acreditam também na existência de uma forte relação entre as características
orais e as morais: existe, por exemplo, uma ablução ritual da boca para as
crianças que se supõe aprimorar sua fibra moral.
O ritual de corpo
executados por cada Nacirema diariamente inclui um rito bucal. Apesar tão
escrupulosos[6] no cuidado bucal, este rito envolve uma prática que choca o
estrangeiro não iniciado que só pode
considerá-lo como revoltante. Relatam-me que o ritual consiste na inserção de
uma pequeno feixe de cerdas de porco na boca, juntamente com certos pós
mágicos, então o movimenta numa série de
gestos altamente formalizados.[7]
Além do ritual bucal
privado, as pessoas procuram o mencionado sacerdote-da-boca uma ou duas vezes
ao ano. Estes profissionais têm uma impressionante coleção de instrumentos
consistindo de brocas, furadores, sondas e agulhões. O uso destes objetos no
exorcismo dos demônios bucais envolve para o cliente uma tortura ritual quase
inacreditável. O sacerdote-da-boca abre a boca do cliente e, usando os
instrumentos acima citados, alarga todas as cavidades que a degeneração possa
ter produzido nos dentes. Nestas cavidades naturais nos dentes, grandes seções
de um ou mais dentes são extirpados para que a substância sobrenatural possa
ser aplicada. Do ponto de vista do cliente, o propósito destas aplicações[8] é
tolher a degeneração e atrair amigos. O caráter extremamente sagrado e
tradicional do rito evidencia-se pelo fato de os nativos voltarem ao
sacerdote-da-boca ano após ano, são obstante o fato de seus dentes continuarem
a degenerar.
Esperamos que quando
for realizado um estudo completo dos Nacirema, haja um inquérito cuidadoso
sobre a estrutura de personalidade destas pessoas. Basta observar o fulgor nos
olhos de um sacerdote-da-boca quando ele enfia um furador num nervo
exposto para se suspeitar que este rito
envolva certa dose de sadismo. Se isto puder ser comprovado, teremos um modelo
muito interessante, pois a maioria da população demonstra tendências
masoquistas bem definidas. Foi a estas tendências que o Prof. Linton se referiu
na discussão de uma parte específica do rito corporal que é desempenhada apenas
por homens. Esta parte do rito envolve raspar e lacerar a superfície da face
com um instrumento afiado. Ritos especificamente femininos têm lugar apenas
quatro vezes durante cada mês lunar, mas o que lhes falta em frequência é
compensado em barbaridade. Como parte desta cerimônia, as mulheres assam suas
cabeças em pequenos fornos por cerca de uma hora. O aspecto teoricamente
interessante é que um povo que parece ser preponderantemente masoquista
desenvolvera tais especialistas sádicos.
Os médicos-feiticeiros
possuem um templo imponente ou “latipso”, em cada comunidade de certo porte. As
cerimônias mais elaboradas necessárias para tratar de pacientes muito doentes
só podem ser executadas neste templo. Estas cerimônias envolvem não apenas o
taumaturgo[9], mas um grupo permanente de vestais que, com roupas e toucados
específicos, se movimentam serenamente pelas câmaras do templo.
As cerimônias no
“latipso” são tão cruéis que é de surpreender que uma boa proporção de nativos
realmente doentes que entram no templo se recuperam. Sabe-se que crianças
pequenas, com uma doutrinação ainda incompleta resistem às tentativas de
levá-las ao templo porque “é lá que se vai para morrer”. Apesar disto, adultos
doentes não apenas querem, mas anseiam por sofrer os prolongados rituais de
purificação, quando possuem recursos para tanto não importa quão doente esteja
o suplicante ou qual seja a emergência. Os guardiães de muitos templos não
admitem um cliente se ele não puder dar uma dádiva valiosa para a
administração. Mesmo depois de ter-se conseguido a admissão e sobrevivido às
cerimônias, os guardiães não permitirão ao neófito abandonar o local se não
fizer ainda outra doação.
O suplicante que entra
no templo é primeiramente despido de todas as suas roupas. Na vida cotidiana o
Nacirema evita a exposição de seu corpo e das suas funções naturais. As
atividades excretoras e o banho, enquanto parte dos ritos corporais, são
realizados apenas no segredo do santuário doméstico. Da perda súbita do segredo
do corpo quando da entrada no “latipso”, pode
resultar traumas psicológicos. Um homem cuja própria esposa nunca o viu
em um ato de excreção acha-se subitamente nu e auxiliado por uma vestal,
enquanto executa suas funções naturais em um recipiente sagrado. Este tipo de
tratamento cerimonial é necessário porque os excrementos são usados por um
adivinho para averiguar o curso e a natureza da enfermidade do cliente.
Clientes do sexo feminino, por sua vez, tem seus corpos nus submetidos ao
escrutínio, manipulação e aguilhoadas dos médicos-feiticeiros.
Poucos suplicantes no
templo estão suficientemente bons para fazer qualquer coisa além de jazer em
duros leitos. As cerimônias diárias, como os ritos sacerdote-da-boca, envolvem
desconforto e tortura. Com precisão ritual, as vestais despertam seus
miseráveis fardos a cada madrugada e os rolam em seus leitos de dor enquanto
executam abluções, com os movimentos formais nos quais estas virgens são
altamente treinadas. Em outras horas, elas inserem bastões mágicos na boca do
suplicante ou o forçam a engolir substâncias que se supõe serem curativas. De
tempos em tempos o médico-feiticeiro vem ver seus clientes e espetar agulhas
magicamente tratadas em sua carne.
O fato de que estes
cerimônias de templo possam não curar, podendo mesmo matar o neófito, não
diminui de forma alguma a fé das pessoas no médico-feiticeiro.
Resta ainda um outro
tipo de profissional, conhecido como um “ouvinte”. Este doutor-bruxo tem o
poder de exorcizar os demônios que se alojam nas cabeças das pessoas
enfeitiçadas. Os Naciremas acreditam que os pais enfeitiçam seus próprios
filhos; particularmente, teme-se que as mães lancem uma maldição sobre as
crianças enquanto lhes ensinam os ritos corporais secretos. A contra-mágica do
doutor-bruxo é inusitada por sua carência de ritual. O paciente simplesmente
conta ao “ouvinte” todos os seus problemas e temores, principiando pelas
dificuldades iniciais que consegue rememorar. A memória demonstrada pelos
Nacirema nestas sessões de exorcismo é verdadeiramente notável. Não é incomum
um paciente deplorar a rejeição que sentiu quando bebê ao ser desmamado; uns
poucos indivíduos reportam a origem de seus problemas aos efeitos traumáticos
de seu próprio nascimento.
Como conclusão, deve-se
fazer referências a certas práticas que têm suas bases na estética nativa, mas
que decorrem da aversão perversiva ao corpo natural e suas funções. Existem
jejuns rituais para tornar as magras pessoas gordas, e banquetes cerimoniais para
tornar gordas as pessoas magras. Outros ritos são usados para tornar maiores os
seios das mulheres que os têm pequenos, e torná-los menores quando são grandes.
A insatisfação geral com o tamanho do seio é simbolizada no fato da forma ideal
estar virtualmente além da escala de variação humana. Umas poucas mulheres,
dotadas com um desenvolvimento hipermamário
são tão idolatradas que podem levar uma boa vida indo de cidade em
cidade e permitindo aos embasbacados nativos, em troca de uma taxa, contemplarem-nos.
Já fizemos referências
ao fato de que as funções excretoras são ritualizadas, rotinizadas e relegadas
ao segredo. As funções naturais de reprodução são, da mesma forma, distorcidas.
O intercurso sexual é tabu enquanto assunto
e é programado enquanto ato. São feitos esforços para evitar a gravidez,
pelo uso de substâncias mágicas ou pela limitação do intercurso sexual e certas
fases da lua. A concepção é na realidade
pouco frequente. Quando grávidas, as mulheres vestem-se de modo a
esconder seu estado. O parto tem lugar em segredo, sem amigos ou parentes para
ajudar, e a maioria das mulheres não amamenta os seus infantes.
Nossa análise da vida
ritual dos Nacirema certamente demonstrou ser este povo dominado pela crença na
magia. É difícil compreender como tal povo conseguiu sobreviver por tão longo
tempo sob a carga que impôs sobre si mesmo. Mas até costumes tão exóticos
quanto estes aqui descritos ganham seu real significado quando são encarados
sob o ângulo relevado por Malinowski[10] quando escreveu (1948-70):
“Olhando de longe e de
cima, de nossos altos postos de segurança na civilização desenvolvida, é fácil
perceber toda a crueza e irrelevância da magia. Mas sem seu poder e orientação,
o homem primitivo não poderia ter dominado, como o fez, suas dificuldades
práticas, nem poderia o homem ter avançado aos estádios mais altos da
civilização.”[11]
REFERÊNCIAS
Linton, Ralph
1936 The Study of Man.
New York, D. Appleton-Century Co.
Malinowski, Bronislaw
1948 Magic, Science,
and Religion. Glencoe, The Free Press.
Murdock, George P.
1949 Social Structure.
New York, The Macmillan Co.
[1] Publicado originalmente como “Body ritual
among the Nacirema,” American Antropologist 58 (1956): 503-507. Notas adicionadas por Dowell.
[2] George Peter Murdock (1897-1985), famoso
etnógrafo.
[3] Ralph Linton
(1893-1953), mais conhecido por estudos de aculturação (afirmando que toda a
cultura é aprendida e não herdada, o processo pelo qual a cultura de uma
sociedade é transmitida de uma geração para a seguinte), alegando que a cultura
é a “hereditariedade social” da humanidade.
[4] Falta no texto o seguinte:
De acordo com a
mitologia Nacirema, sua nação foi originado por um herói da cultura,
Notgnihsaw, que é conhecido por dois grandes feitos de força – o lançamento de
um pedaço de wampum doutro lado do rio Pa-To-Mac e a derrubada de uma árvore
cerejeira em que o Espírito da Verdade residia.
[5] Lavagem ou de limpeza do corpo ou de uma
parte do corpo. Do latim abluere, lavar.
[6] Marcado pela
observância precisa dos pontos mais delicados da etiqueta e conduta formal.
[7] Vale notar que,
desde a realização da pesquisa original do Prof. Miner, os Naciremas
abandonaram quase universalmente as cerdas naturais de seu ritual bucal privado
em favor de produtos sintéticos polimerizado à base de óleo. Além disso, os pós
associados a este ritual geralmente são semi-liquefeito. Evitaram-se neste documento
outras atualizações da cultura Nacirema por razão de parcimônia.
[8] Tendendo a importantes funções religiosas
ou outras.
[9] Um milagreiro.
[10]
Bronislaw Malinowski (1.884-1942), famoso antropólogo cultural conhecido por seu argumento de que as pessoas
em toda parte compartilham necessidades biológicas e psicológicas comuns e que
a função de todas as instituições culturais é cumprir essas necessidades, a
natureza da instituição é determinada por sua função.
[11] Percebeu? Em
qualquer caso, tente analisar a declaração de Malinowski no contexto do que
veio a ser conhecido como “A Terceira Lei de [Arthur C.] Clarke”: “Qualquer
tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia